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Seminário Audiovisual e Territórios Populares encerra com síntese coletiva e reafirma o cinema como espaço de resistência e criação

Após três semanas de intensas atividades, o Seminário Audiovisual e Territórios Populares da América Latina – Desafios e Perspectivas do Audiovisual encerrou suas ações reafirmando o poder transformador do cinema como linguagem de escuta, pertencimento e emancipação. Realizado entre 17 de maio e 7 de junho, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o evento foi promovido pelo Instituto Alvorada Brasil (IAB) em parceria com o coletivo Com.Unidades, reunindo cineastas, pesquisadores, educadores e 40 jovens bolsistas das periferias paulistanas em um processo formativo e colaborativo. O patrocínio foi do Ministério da Cultura com recursos de emenda parlamentar federal.

O seminário foi concebido como uma experiência de formação crítica e partilha coletiva, estruturada em três oficinas principais:  Narrativas do Audiovisual nos Territórios Populares da América Latina, Dificuldades e Caminhos para uma Educação Midiática, e Desafios do Presente e do Futuro na Produção Audiovisual.

O percurso combinou exibição de filmes, debates e metodologias colaborativas, que estimularam a escuta, o diálogo e a construção coletiva de conhecimento. Inspirado na pedagogia freireana, a iniciativa buscou valorizar o audiovisual como instrumento político, pedagógico e estético, capaz de unir arte, tecnologia e transformação social.

O último dia foi descrito como “síntese e recomeço”, unindo os palestrantes e os participantes em um grande encontro de devolutiva. A tarde começou com uma ciranda, gesto que recuperou o corpo e a coletividade como princípios metodológicos.

Durante o seminário, os jovens rejeitaram o discurso de que são impotentes por serem pobres e afirmaram sua capacidade criativa. “Não somos pobres, somos ricos de conhecimento”, declarou Jonas (nome fictício)*, de  22 anos, da Brasilândia. “A força criadora nasce justamente da escassez”, completou, sob aplausos de seus colegas.

O tema da inteligência artificial também gerou reflexões intensas. “Precisamos aprender a usá-la a nosso favor; a IA foi criada para nos dominar, mas quem tem que dominar ela somos nós”, disse Tainá*, 21 anos, estagiária de audiovisual numa produtora de São Paulo.

Entre os convidados, o produtor audiovisual Lincoln Pires, da Monomito Filmes, destacou o valor da criação coletiva nas periferias, onde a empresa atua. “Aprendemos fazendo, errando, improvisando, criando em rede. É assim que a gente vira o jogo”, afirmou. Já o filósofo Rogério da Costa, professor da PUC-SP, ressaltou o papel político das narrativas latino-americanas. “São expressões legítimas de culturas e povos historicamente colocados à margem pela indústria global”, avaliou.

O encerramento foi marcado por um tom de mobilização e pertencimento. “Tudo é política, né? Tudo é política, saúde é política e falar é política. Somos seres políticos. Bora?”, provocou Léo*, 23 anos, morador de Guaianases.

Ao final, o seminário consolidou uma visão de que o audiovisual pode ser uma ferramenta de vínculo, escuta e emancipação. Para tanto, ele precisa ser genuinamente de brasileiros e brasileiras de todos os territórios do país.

Mais do que uma formação técnica, o evento se tornou um rito coletivo de consciência e pertencimento, deixando como legado uma rede de jovens criadores e pensadores do cinema popular latino-americano prontos para ocupar as telas e reinventar as formas de ver e contar o mundo. Como disse Pablo, jovem trans de 27 anos, “o seminário veio para decolonizar e essa decolonização não se esgota nesse evento, é um processo que envolve as relações, parcerias e futuras produções coletivas”.

* Por se tratar de pessoas em situação de vulnerabilidade social, os nomes dos participantes foram alterados para preservar suas identidades.