O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) divulgou nota manifestando “profunda preocupação e veemente discordância” com o convite da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) ao apresentador José Luiz Datena para comandar programas na Rádio Nacional e na TV Brasil”. A nota, divulgada nesta quarta-feira (3/12), destaca que a contratação representa “um grave retrocesso para as lutas históricas em defesa do direito à comunicação e da construção de um sistema público comprometido com a promoção de direitos, com a pluralidade informativa e com a democracia”.
De acordo com notícias veiculadas na imprensa nesta quarta, Datena teria aceitado o convite. O apresentador declarou, em entrevistas, que continuará sendo “independente”. O FNDC lembra que o comunicador, associado ao chavão “bandido bom é bandido morto”, tem uma trajetória profissional marcada por uma postura sensacionalista, criminalizadora da pobreza e por um discurso de legitimação da violência.
A nota do FNDC também manifesta preocupação pela forma como a decisão sobre a programação da emissora não foi consultada no âmbito do Comitê Editorial e de Programação (Comep) da estatal. A entidade repudia a indicação e reivindica abertura de diálogo, pela empresa, com os movimentos sociais que há décadas lutam pela democratização da comunicação no país.
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Nota do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)
Em defesa da comunicação pública, da participação social e do direito à comunicação
O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), organização que reúne centenas de organizações em todo o Brasil, manifesta profunda preocupação e veemente discordância diante da informação, divulgada pela imprensa, de que o apresentador José Luiz Datena teria sido convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comandar programas na Rádio Nacional e na TV Brasil, veículos públicos administrados pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
A possível indicação de Datena representa um grave retrocesso para as lutas históricas em defesa do direito à comunicação e da construção de um sistema público comprometido com a promoção de direitos, com a pluralidade informativa e com a democracia. A trajetória do apresentador é amplamente conhecida por sua postura sensacionalista, por práticas que reforçam estigmas sociais, por narrativas que criminalizam a pobreza e por um discurso que legitima a violência, elementos absolutamente incompatíveis com a missão de qualquer emissora pública.
Não é possível conceber que, em pleno 2025, um comunicador associado à difusão de ideias como “bandido bom é bandido morto” possa ocupar espaço privilegiado em canais que pertencem à sociedade brasileira. Esse tipo de narrativa, repetido à exaustão por programas policialescos, contribui para a naturalização da violência letal, especialmente contra jovens negros das periferias.
Além disso, causa preocupação a forma como uma decisão importante sobre a programação de emissoras públicas foi tomada. O sistema público deve ser protegido contra interferências políticas e garantir diversidade de vozes, por isso há mecanismos de participação social. No entanto, essa decisão foi tomada sem qualquer consulta ao recém-eleito Comitê de Programação — instância conquistada por trabalhadores, trabalhadoras e movimentos sociais —, o que configura claro desrespeito ao princípio da gestão democrática e da participação popular que devem orientar os meios públicos.
Quem perde com essa decisão é a sociedade brasileira, que, em um ano eleitoral, corre o risco de ver reforçadas narrativas distorcidas que pouco contribuem para compreender a realidade do país e menos ainda para transformá-la. A comunicação pública não pode ser moeda de troca nem espaço para aprofundar a lógica sensacionalista que viola direitos. Deve, ao contrário, ser instrumento de promoção da democracia e dos direitos humanos.
O FNDC repudia a indicação e reivindica a abertura de diálogo com os movimentos que há décadas lutam pela democratização da comunicação sobre a agenda das comunicações do país. O fórum seguirá vigilante e mobilizado em defesa do direito à comunicação e da comunicação pública como patrimônio da sociedade brasileira.




